quarta-feira, 8 de outubro de 2008

A INTERNET SÓ FEZ BEM AO LIVRO

Por Bruno Rodrigues

Do: http://www.webinsider.com.br/

As ferramentas estavam lá há tempos, em anos que hoje podem ser contados nos dedos de uma mão, apenas, ou em longas décadas. Fato é que, após tanto tempo colocado no centro das atenções do apocalipse cultural, sim, o livro sobreviveu.
Se foi difícil? Uma pedreira, sem exageros. Leve em conta um mundo em constante recessão desde a primeira crise do petróleo, nos 70, ameaçando aprisionar o mercado editorial na literatura “difícil”.
Nem a propagação dos bestsellers - que na virada para os 80 alçou editoras americanas ao mainstream -, nem os livros-evento, como “O Nome da Rosa”, serviram para que a arte de contar histórias em papel pudesse se estabilizar.
E então veio a internet. Aquela que viria a se alimentar do clichê “o livro de papel irá acabar?” tinha mais o que fazer, e passou ao largo do Armagedon que tanto se anunciava. Em silêncio, apenas esperou o tempo passar, acrescentando com trabalho silencioso o que a tão temida mídia digital poderia ajudar.
Tecnologia? Inovação? Novos formatos? Qual nada. O que o admirável mundo novo da web trouxe ao livro - sabe-se hoje no emblemático ano de 2008 - não foi a técnica de recriar formatos, mas a magia de aproximar histórias de pessoas.
“Harry Potter”, legítimo filho literário da era digital, apenas abriu caminho. O que seria a série de J.K. Rowling se não fosse a internet? Não fossem os fóruns criados por adolescentes no final dos já distantes anos 90, a América não abraçaria tão rápido o bruxinho inglês. Não fosse a web, “O Senhor dos Anéis” não renasceria dos porões dos 60, galgando em pouco tempo a escadaria rumo a Hollywood, onde Harry Potter também se preparava para criar vida.
Se não era segredo a fórmula livro & cinema, por que a exceção? Por que demorou tanto tempo para que séries literárias virassem certeza de lucro descomunal? A resposta: faltava entender os adolescentes, que desde Spielberg & Lucas já demonstravam paixão por boas histórias. Faltava a eles um meio em que pudessem interagir, interferir, exigir, opinar. A web era uma questão de tempo, e o retorno da contação de histórias, em grande estilo e com nova roupagem, estava prestes a começar.
Afinal, um livro é uma história que é contada em papel ou uma história que se aproveita do papel para chegar até quem quer escutá-la? Por que uma história precisa ficar contida em um meio físico? Ao criador – escritor, apenas? – caberia a missão de inventar um grande arco por onde sua história poderá ser contada - que começa em um livro, vai ao cinema, recria-se em um game e permanece, também, na web.
O surgimento dos e-books, no raiar da era digital, assim como os audiolivros e a carona que estes tomaram com a internet, era apenas um sinal de que o livro apenas esperava que todas as mídias entendessem que o ato de contar história poderia ser muitíssimo mais que *escrever* uma história – era preciso expandi-la por todas as mídias, oferecer ao leitor – usuário? internauta? espectador? jogador? – a possibilidade de vivenciar ao máximo o universo desenhado pelo criador.
Nos Estados Unidos, espera-se para o próximo ano um crescimento como nunca se viu em vendas de e-books – grandes editoras como a Penguin e a Random House passam, agora, a ter como regra a publicação de seus livros em meios papel e digital. Não se vê mais a versão em e-book como capricho ouexceção. O motivo? Embora a Amazon guarde a sete chaves o número de Kindles vendidos desde o lançamento, ano passado, o mercado aponta que o montante foi muito (muito) maior que o esperado. Com o Kindle, não apenas lê-se um livro – compram-se livros pelo aparelhinho, da rua, e nele armazenam-se dezenas deles.
As mesmas Penguin e a Random House não ignoram o conceito de “transmedia storytelling” – o mix de mídias para se contar uma história – e já partem para o ataque. A participação em “mídias sociais” como MySpace e Facebook (onde os leitores se encontram) e a obrigação de existir sites oficiais dos autores (onde o autor e os leitores se encontram; já existem até produtoras oficiais deste sites, como a Authorbytes) apenas nos mostram a ponta do iceberg: o “transmedia storytelling” está só começando.
Com grande expectativa, foi lançado em setembro nos Estados Unidos, pela mesma editora que nos apresentou “Harry Potter”, a série cross-media para adolescentes “As 39 Pistas”, um tripé de livros, card games e site que irá cercar os leitores por todos os lados. Para se chegar às tais 39 pistas não basta ler os livros. Neles, há apenas 10 pistas. As 29 restantes estão espalhadas pelos cards e no site.
É hora de rever o conceito de “livro”. Em um futuro próximo – futuro? –, ele não seria somente uma das pontas da fantástica tarefa de se contar uma história?
No Brasil, não é diferente. Há diversos projetos de “contação cruzada de histórias” – seria esta a melhor tradução? – prontos para sair do forno. Enquanto isso não acontece, o mercado nacional investe em outro formato, o audiolivro. Nomes conhecidos, como Nathália Timberg, lêem títulos conhecidos como “O Ano do Pensamento Mágico”. Seria esta a fórmula para o audiolivro decolar por aqui?
Com tanto por acontecer, o “novo livro” colocaria em extinção a confraria dos que gostam de ler em papel – com início, meio e fim – porque gostam de “folheá-lo” e “sentir seu cheiro”? Ou estes também podem ser apresentados ao início de uma nova era, muito mais ampla e satisfatória? [Webinsider]
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Algumas (boas) dicas:
1. Duas redatoras online de Fortaleza criaram há um mês aquela que - pretendo - será a *grande* comunidade sobre redação online no Orkut, a “Webwriting”. Não deixe de participar!
2. Para quem não conhece meu blog, dê uma checada no Cebol@.
3. Gostaria de me seguir no Twitter? Espero você em twitter.com/brunorodrigues.

Um comentário:

Unknown disse...

A internet fez e faz muito bem ao livro. Como biliotecária, posso ver de perto a sua grande contribuição. Se não fosse a internet, como aconteceriam as trocas de informações/documentos entre outras bibliotecas (COMULT)? Como se trocariam informações sobre os dados dos livros para não necessitar registrá-lo/catalogá-lo uma vez que outra unidade de informação poderá tê-lo? Se a internet fosse substituir o livro, o cinema teria substituído a tv, as bibliotecas digitais teriam substituído as tradicionais...devemos pensar essa relação de uma maneira benéfica.