quarta-feira, 24 de setembro de 2008

ARQUITETURA DA INFORMAÇÃO

Outro assunto que está na pauta é a tal "Arquitetura da Informação". Olha esse este texto básico sobre o assunto.
La arquitectura de información del siglo XX al XXI


Jesús Bustamante, 18 de dezembro de 2002
Tradução e adaptação: Juan Leal, 2 de fevereiro de 2004

Versão: Português do Brasil

A arquitetura de informação do século XX ao XXI

Quando Richar Saul Wurman utilizou o termo "arquitetura de informação" em 1976, foi para fazer uma descrição do que percebia, naquele momento, como uma profissão emergente. Esta profissão ocupar-se-ia de solucionar o que era complexo e de arrumar "o tsunami de dados que rompe nas praias do mundo civilizado". Uma profissão do futuro.
Hoje parece que os anos dourados da arquitetura de informação pertencem ao passado. Quem assim pensa argumenta que o pouco ou muito que se havia conseguido, foi apagado do mapa pela explosão da bolha das .com no ano 2000 (um autêntico tsunami também, com certeza). Foi num abrir e fechar de olhos! Uma verdadeira vida no tempo de Internet, mas um piscar de olhos no tempo real.
Seja coisa do passado ou do futuro, a história (o conto) da "arquitetura de informação" ilustra muito bem, do meu ponto de vista, a constante luta do profissional de arquitetura de informação por atingir o reconhecimento professional. Assim, para quem não viu muito bem o jogo, gostaria de fazer voltar um pouco a fita para assisti-la um pouco mais devagar.
Os acontecimentos que veremos a seguir são a história segundo a entendo...
O chapéu do capitão (desde 1995 até finais do 2000)
O Sr. Wurman supreendeu-se de que a arquitetura de informação não tivesse o sucesso como a pólvora ao ser acendida. Vinte anos mais tarde, surpreende-se novamente quando sãem arquitetos de informação de todos os cantos. A aparição da Web no ano 1994 e a sua espectacular aceitação é uma mostra da diferença entre um momento e outro.
Aqueles especialistas da informação que, na primeira metade dos anos noventa cairam na trovoada da web, tiveram ocasião de ver também neste meio, uma boa oportunidade profissional. Chamamo-nos naquela altura "webmasters" ou qualquer coisa impronunciável que os quissessem chamar com a condição de poder continuar a brincar com os nossos websites.
O título de "arquiteto de informação" calhou mesmo. Como se o capitão do navio tivesse deixado o seu chapéu e suas medallas esquecidas em cima da mesa, colocamo-nos de fato e unimo-nos ao desfile sem dar explicações a ninguém.
A pomposidade do termo "arquitectura" tem a sua origen no facto de Sr. Wurman ser arquiteto por formação acadêmica. Ficamos muito agradecidos, porque sem ter sapatos tão 'amplos' para calçar, não teríamos sido convidados para a festa.
Estes são os anos dourados da arquitetura da informação. Nesta disciplina reunem-se profissionais da uma grande variedade de titulações acadêmicas e profissionais, desde a biblioteconomia até o design industrial, passando por IHC (Interação Humano-Computador). As empresas de Internet procuram-nos e nós arquitetos de informação nos deixamos encontrar. O termo utiliza-se até tal ponto que começa a usar-se a abreviatura "AI" (Arquiteto de Informação), como se se tratasse de um cartão de um clube exclusivo, ou como se todo o mundo estivesse informado...
Entre os momentos mais importantes desta época sublinham-se:
a Aargus Associates, Inc. Aparece como uma empresa dedicada exclusivamente à arquitetura de informação. Em 1998, os líderes da Aargus (Peter Morville e Lou Rosenfeld) publicam Information Architecture for the World Wide Web. O livro verde com o urso polar (como também é conhecido), que converte-se num livro de referência desta área.
Aparecem e crescem rapidamente as consultorias especializadas em desenvolvimento web. Empresas tipo como Sapient, Scient, Viant, agency.com, IXL, marchFIRST, Rare Medium, Zefer, Luminant, etc. Acolhem formalmente à arquitetura de informação como disciplina.
Um arquiteto de informação com pouca experiência de trabalho (ou mesmo nenhuma) poderia começar a ganhar entre US$40,000 e US$50,000 por ano. Começou então a impressão de cartões de visita com o título "Arquiteto de informação" e incorporam-se os departamentos de estratégia, tecnologia, ou design creativo. Noutros casos (menos comuns) criam-se mesmo departamentos de Arquitetura de informação. Como foi o caso do grupo que eu próprio criei e dirigi no Web Design Group, Inc. no Chicago. Estes anos dourados atingem o ponto mâximo com a primeira conferência de e para arquitetos de informação ("Information Arquitecture Summit 2000"), que teve lugar em San Diego, California, em outubro do mesmo ano. Foi nesse lugar que reunimo-nos, falamos, demo-nos coragem, e petiscamos.
O pássaro na mina (ano 2001)
No ano 2001 explodiu a bolha especulativa de Internet e as empresas de tecnologia cairam na bolsa. Entre o final de março e meados de abril, a NASDAQ perdeu um terço do seu valor. A inversão desaparece completamente. Aargus Associates. Inc, que nem fazia um ano que tinha apostado por crescer, não conseguiu manter-se num mercado que diminuia rapidamente e fechou as suas portas em março de 2001.
Peter Morville numa entrevista fez uma descrição sobre o rápido final da Argus comparando-o com o pássaro ao pé duma mina de carvão (a sua morte avisava dos enormes problemas que outros iriam encontrar posteriormente). A partir de seu ponto de vista, a arquitetura de informação caiu, em primeiro lugar, por ser o carro de frente.
Eu, menos poético, acho que tudo foi abaixo ao mesmo tempo (e sem preferência nem discriminação de disciplinas). Nesse momento a arquitetura de informação teve que encarar um problema com o que o profissional da arquitectura da informação tem encontrado sempre: a dificuldade de explicar aos outros exatamente e com claridade o que fazemos e porque somos importantes para uma organização.
Só de brincadeira: Quando os chefões entraram nas salas de reuniões com tesouras para cortar recustos (humanos) e nos viram ao pé do desfile envolvidos com a bandeira da AI, vestidos de capitão, com todas as estrelas colocadas, a primeira coisa que nos perguntaram foi qual tipo de arquitetos nós eramos exatamente. Muitos começaram a tremer e como resultado, o nosso chapéu de AI foi-se embora. Durante o ano de 2001 e 2002 os arquitetos de informação dispersaram-se. Alguns voltaram a ocupar postos de trabalho que tinham abandonado anteriormente. Muitos foram passando (por virtude de aquisições, etc.) por consultorias sobreviventes. Uma grande parte, como foi no meu caso, decidiu que era o momento de se estabelecer por conta própria e continuar a trabalhar na Web. Muitos, pelos visto, têm dedicado o seu tempo a escrever tudo o que sabem. Uma pesquisa recente na amazon.com mostra-nos 254 livros sobre "information architecture"´publicados depois de 1999, entre eles a segunda edição do livro de Peter Morville e Lou Rosenfeld (aquele do Urso Polar).
A arquitetura de informação hoje
Quer isto dizer que o fim chegou para a arquitetura de informação? Eu creio que não. O número de livros novos dedicados ao tema que utilizam o termo "arquitetura de informação" parece indicar que AI tem se estabelecido e continua de pé.
Talvez os profissionais que decidiram chamar-se arquitetos de informação estão agora um pouco desorientados. Isso explicaria as múltiplas iniciativas para manter viva a comunidade de profissionais.
Blogs tipo Community Infrastructure for Information Architects, o blog de Lou Rosenfeld, o ia/, ou websites como o de Jesse James Garrett também contribuem nesse sentido.
A ASIS&T (American Society for Information Science and Technology) organizou o útlimo IA Summit 2003 "Making Connections" en março del 2003.
O título "arquiteto de informação" também tem sobrevivido e permanece no vocabulário de recursos humanos das empresas americanas. É possível que agora seja mais um título, que concorre com outros tipo "Especialista em Informação", "Profissional da informação", "Expert em Usabilidade", "Documentalista" e outros. Uma pesquisa no site monster.com identifica 19 posts de postos de trabalho para arquitetos de informação nos Estados Unidos nos últimos 60 dias. De alguna forma, o arquiteto de informação tem voltado para casa como o filho que foi-se embora. Aqui encontramo-nos com a nossa velha amiga: a constante necessidade de mostrar quem somos e o que fazemos. A constante luta pelo reconhecimento profissional.
O futuro
E o futuro? Julgo que qualquer advinhação é boa. Adoraríamos poder ver o futuro!
Eu creio que ainda há muito pano pra manga. Esta luta constante para demonstrar quem somos, demonstra na minha opinião, tanto uma debilidade quanto nossa maior força. Ao mesmo tempo que tem desaparecido a demanda louca que houve outrora, também é certo que ainda há grande necessidade pelos nossos serviços. Por um lado, é certo que somos uns grandes incompreendidos (e uma grande parte dos que são alheios a este campo nem conhecem a nossa existência), por outro lado, temos a grande vantagem de que ninguén nos define e podemos andar com certa liberdade (como arquitetos, engenheiros, obreiros da informação)
É possível que um dia o capitão volte a deixar o seu chapéu esquecido na mesa e se calhar a banda de música passe pela rua nesse momento a tocar uma bela melodia...

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